7 de dez. de 2009
Começou numa daquelas manhãs abafadas de Resende, enquanto subia a ladeira do Jardim Brasília II, indo pra casa depois do colégio. Na mochila que me deixava empapada de suor, eu carregava as folhas da longa carta que escrevia para Sara.
Ao virar a esquina, já de costas para o Pico das Agulhas Negras, avistaria o sorriso largo e dócil dela. Sara desceria a rampa da garagem para nos abraçarmos saudosas e emocionadas. Eu falaria dos dias vazios, das saudades de Minas Gerais e da falta dela nos meus dias.
Mas ao chegar ao meu portão: nem Sara, nem cartas na caixinha de correio.
Então eu abria a porta, beijava minha mãe, que estava sempre preparando o almoço, e subia lentamente as escadas que levavam ao meu quarto.
Ao abrir a porta, já acostumada ao silêncio daqueles dias, encontraria Sara sentada em minha cama. O tal sorriso, o loiro dos cabelos e o sotaque manso.
Mas ao fim dos degraus, a porta aberta denunciava o vazio do quarto.
Dias em seqüência, o caminho para casa era o alimento de minha fé. Tecia, cuidadosamente, os detalhes dessa mentira, enganando-me de esperança. Sara nunca cruzou os mais de seiscentos quilômetros de Sete Lagoas até o interior carioca. Fui eu tantas vezes até lá para visitá-la, reencontrar os amigos do teatro, o primeiro menino que namorei e algumas das verdades que construí.
Mas quando em casa, dias inúteis, eu era a dona de meus próprios enganos, criando as mentiras que se diluíam. Tão logo eu dobrasse a esquina, no instante em que alcançava o mais alto da escada.
Sara nunca soube que sua ausência minguava minha fé. E passei a culpar-me pelas frustrações diárias. Já exausta de uma espera solitária, acabei por concluir que minhas mentiras eram responsáveis pela anulação dos acontecimentos: uma vez que eu pensasse, a possibilidade tornava-se vento.
A solução me veio nos entremeios do tempo. Para reencontrar a esperança e em mim a nascente da fé, aprendi então a voar.
7 de dez. de 2009
Começou numa daquelas manhãs abafadas de Resende, enquanto subia a ladeira do Jardim Brasília II, indo pra casa depois do colégio. Na mochila que me deixava empapada de suor, eu carregava as folhas da longa carta que escrevia para Sara.
Ao virar a esquina, já de costas para o Pico das Agulhas Negras, avistaria o sorriso largo e dócil dela. Sara desceria a rampa da garagem para nos abraçarmos saudosas e emocionadas. Eu falaria dos dias vazios, das saudades de Minas Gerais e da falta dela nos meus dias.
Mas ao chegar ao meu portão: nem Sara, nem cartas na caixinha de correio.
Então eu abria a porta, beijava minha mãe, que estava sempre preparando o almoço, e subia lentamente as escadas que levavam ao meu quarto.
Ao abrir a porta, já acostumada ao silêncio daqueles dias, encontraria Sara sentada em minha cama. O tal sorriso, o loiro dos cabelos e o sotaque manso.
Mas ao fim dos degraus, a porta aberta denunciava o vazio do quarto.
Dias em seqüência, o caminho para casa era o alimento de minha fé. Tecia, cuidadosamente, os detalhes dessa mentira, enganando-me de esperança. Sara nunca cruzou os mais de seiscentos quilômetros de Sete Lagoas até o interior carioca. Fui eu tantas vezes até lá para visitá-la, reencontrar os amigos do teatro, o primeiro menino que namorei e algumas das verdades que construí.
Mas quando em casa, dias inúteis, eu era a dona de meus próprios enganos, criando as mentiras que se diluíam. Tão logo eu dobrasse a esquina, no instante em que alcançava o mais alto da escada.
Sara nunca soube que sua ausência minguava minha fé. E passei a culpar-me pelas frustrações diárias. Já exausta de uma espera solitária, acabei por concluir que minhas mentiras eram responsáveis pela anulação dos acontecimentos: uma vez que eu pensasse, a possibilidade tornava-se vento.
A solução me veio nos entremeios do tempo. Para reencontrar a esperança e em mim a nascente da fé, aprendi então a voar.
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