8 de fev. de 2010
Só uma coisa eu sei: não preciso ter
piedade de Deus. Ou preciso?
Tanto estava viva que se mexeu devagar e acomodou o
corpo em posição fetal. Grotesca como sempre fora.
Aquela relutância em ceder, mas aquela vontade do
grande abraço. Ela se abraçava a si mesma com vontade
do grande abraço. Ela se abraçava a si mesma com
vontade do doce nada. Era uma maldita e não sabia.
Agarrava-se a um fiapo de consciência e repetia
mentalmente sem cessar: eu sou, eu sou, eu sou. Quem
era, é que não sabia. Fora buscar no próprio profundo
e negro âmago de si mesma o sopro de vida que Deus nos
dá.
Então - ali deitada - teve uma úmida felicidade
suprema, pois ela nascera para o abraço da morte. A
morte que é nesta história o meu personagem predileto.
Iria ela dar adeus a si mesma? Acho que ela não vai
morrer porque tem tanta vontade de viver. E havia
certa sensualidade no modo como se encolhera. Ou é
porque a pré-morte se parece com a intensa ânsia
sensual? É que o rosto dela lembrava um esgar de
desejo. As coisas são sempre vésperas de morrer,
predoai-me lembrar-vos porque quanto a mim não me
perdôo a clarividência.
Um gosto suave, arrepiante, gélido e agudo como no
amor. Seria esta a graça que vós chamais de Deus? Sim?
Se iria morrer, na morte passava de virgem mulher.
Não, era morte pois não a quero para a moça: só um
atropelamento que não significava sequer desastre. Seu
esforço de viver parecia uma coisa que, se nunca
experimentara, virgem que não era, ao mesmo intuíra,
pois só agora entendia que mulher nasce mulher desde o
primeiro vagido. O destino de uma mulher é ser mulher.
Intuíra o instante quase dolorido e esfuziante do desmaio do amor.
8 de fev. de 2010
Só uma coisa eu sei: não preciso ter
piedade de Deus. Ou preciso?
Tanto estava viva que se mexeu devagar e acomodou o
corpo em posição fetal. Grotesca como sempre fora.
Aquela relutância em ceder, mas aquela vontade do
grande abraço. Ela se abraçava a si mesma com vontade
do grande abraço. Ela se abraçava a si mesma com
vontade do doce nada. Era uma maldita e não sabia.
Agarrava-se a um fiapo de consciência e repetia
mentalmente sem cessar: eu sou, eu sou, eu sou. Quem
era, é que não sabia. Fora buscar no próprio profundo
e negro âmago de si mesma o sopro de vida que Deus nos
dá.
Então - ali deitada - teve uma úmida felicidade
suprema, pois ela nascera para o abraço da morte. A
morte que é nesta história o meu personagem predileto.
Iria ela dar adeus a si mesma? Acho que ela não vai
morrer porque tem tanta vontade de viver. E havia
certa sensualidade no modo como se encolhera. Ou é
porque a pré-morte se parece com a intensa ânsia
sensual? É que o rosto dela lembrava um esgar de
desejo. As coisas são sempre vésperas de morrer,
predoai-me lembrar-vos porque quanto a mim não me
perdôo a clarividência.
Um gosto suave, arrepiante, gélido e agudo como no
amor. Seria esta a graça que vós chamais de Deus? Sim?
Se iria morrer, na morte passava de virgem mulher.
Não, era morte pois não a quero para a moça: só um
atropelamento que não significava sequer desastre. Seu
esforço de viver parecia uma coisa que, se nunca
experimentara, virgem que não era, ao mesmo intuíra,
pois só agora entendia que mulher nasce mulher desde o
primeiro vagido. O destino de uma mulher é ser mulher.
Intuíra o instante quase dolorido e esfuziante do desmaio do amor.
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